A surpresa começa na entrada. Chumbado aos tijolos retorcidos de colunas salomônicas, o portão de ferro se desmancha no ar, tragado por um inventivo sistema de dobradiças. Abertas as portas da percepção, surge imponente uma pirâmide de 6m20cm de altura, ornada com elementos da cultura asteca. Logo adiante, há 76 canteiros multiformes, desenhando na terra mandalas, serpentinas tribais e círculos concêntricos, todos cultivados com mudas orgânicas. No centro do terreno, dois totens de guerreiros toltecas erguem-se em direção ao céu, abençoando a semeadura espalhada pelos 3,4 mil metros quadrados de exuberância estética e ambiental. O que à primeira vista parece ser o jardim esotérico de uma civilização perdida é na verdade uma sala de aula ao ar livre: o laboratório de agroecologia da Faculdade Santo Ângelo (Fasa). E tudo começou porque um filósofo estava com vontade de comer alface.
Discípulo de Nietzsche, para quem a “arte existe para que a realidade não nos destrua”, Neimar Marcos da Silva estava no Rio de Janeiro quando a pandemia impôs uma quarentena ao planeta. Havia alugado um apartamento em Copacabana e trabalhava na construção de salas de aula numa escola infantil do Cosme Velho, um dos mais charmosos bairros da cidade. Impedido de continuar a obra, decidiu retornar ao Rio Grande do Sul e permanecer recluso no campus da Fasa em Santo Ângelo.